domingo, 4 de março de 2012

DO QUE ESTÁ CHEIO O INFERNO

Friedrich Engels e Karl Marx


"Enquanto que Feuerbach chega com efeito a esta conclusão de que a filosofia deve descer do céu da especulação às baixas regiões da miséria humana, o Sr. Edgar diz-nos pelo contrário que a filosofia é super-prática."

"La Sainte Famille" (F. Engels e K.Marx)



Estranho reverso da "crítica da crítica crítica". Parece que a força que mais tem influenciado as "baixas regiões da miséria humana" nos últimos cem anos é precisamente a da ciência, na sua mais hiperbólica abstracção. De facto, sem que, de modo nenhum, tivessem sido movidas pela filantropia ou pelo ímpeto revolucionário, as ideias científicas, aplicadas, num segundo momento, pela tecnologia, estão na origem de espectaculares progressos em todos os domínios.

Em comparação, as vontades mais abnegadas e mais bem intencionadas que se imolaram à ideia da transformação directa dum mundo ou dum sistema considerado injusto não deixaram, materialmente, senão as pègadas que levaram alguns povos à beira do inferno. Sem embargo, algumas dessas nobres figuras sobrevivem intocadas e intocáveis no panteão das utopias, porque nossa é a condição de sermos mais fiéis aos nossos erros do que à verdade dos outros.

O "materialismo", hoje, é um entre os muitos "idealismos" de que não conseguimos "desalienar-nos", porque temos de pensar o mundo antes de estabelecermos a sua objectividade.

Como não basta assumirmos a crítica para nos pormos ao abrigo dela, é até natural que, em muitos aspectos o chamado materialismo-dialéctico seja mais teológico do que algumas das doutrinas que ele próprio criticou.

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