Friedrich Engels e Karl Marx |
"Enquanto que Feuerbach chega com efeito a esta
conclusão de que a filosofia deve descer do céu da especulação às baixas regiões
da miséria humana, o Sr. Edgar diz-nos pelo contrário que a filosofia é
super-prática."
"La Sainte Famille" (F. Engels e K.Marx)
Estranho reverso
da "crítica da crítica crítica". Parece que a força que mais tem
influenciado as "baixas regiões da miséria humana" nos últimos cem
anos é precisamente a da ciência, na sua mais hiperbólica abstracção. De facto,
sem que, de modo nenhum, tivessem sido movidas pela filantropia ou pelo ímpeto
revolucionário, as ideias científicas, aplicadas, num segundo momento, pela
tecnologia, estão na origem de espectaculares progressos em todos os domínios.
Em comparação, as vontades mais abnegadas e mais bem
intencionadas que se imolaram à ideia da transformação directa dum mundo ou dum
sistema considerado injusto não deixaram, materialmente, senão as pègadas que
levaram alguns povos à beira do inferno. Sem embargo, algumas dessas nobres
figuras sobrevivem intocadas e intocáveis no panteão das utopias, porque nossa
é a condição de sermos mais fiéis aos nossos erros do que à verdade dos outros.
O "materialismo", hoje, é um entre os muitos
"idealismos" de que não conseguimos "desalienar-nos",
porque temos de pensar o mundo antes de estabelecermos a sua objectividade.
Como não basta assumirmos a crítica para nos pormos ao
abrigo dela, é até natural que, em muitos aspectos o chamado
materialismo-dialéctico seja mais teológico do que algumas das doutrinas que
ele próprio criticou.
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