No mundo da finança 'criativa', as fórmulas duram
enquanto dão dinheiro. Não é preciso ser-se particularmente crédulo para seguir
uma moda e fazer como os que estão no negócio fazem.
No filme de J. C. Chanders, "Margin Call", um
"descontente", antes de ser posto na rua, com um terço do pessoal,
numa daquelas 'metamorfoses' a que as 'big corporations' se sujeitam, como as
serpentes quando mudam de pele, procurava
falhas nesse modelo matemático dispensador de tantos bónus
milionários, e encontrou-as logo. O
negócio estava mesmo várias vezes falido, o que motivou várias reuniões de
emergência pela madrugada dentro.
A presidir, um impiedoso John Tuld (Jeremy Irons), que
nem por um momento perdeu a fleuma. Se foi a inteligência que 'quebrou' a
fórmula, não foi ela, de modo nenhum,
que pôs o patrão dos patrões no lugar em que estava.
O plano passa por vender a matéria tóxica nas primeiras
horas do dia seguinte e 'reestruturar' sem dó nem piedade. Como vimos com o
caso da Lehman Brothers, tudo entrou na ordem, sem culpados pela destruição da
poupança e do desastre económico. É assim mesmo que a coisa funciona.
O jovem especialista em mísseis balísticos que conseguiu,
de um modo tão oportuno, demonstrar que os algoritmos tinham ultrapassado o
prazo de validade, é chamado para o novo jogo dos milhões.
No dia segunte, Tuld toma tranquilamente o pequeno-almoço no seu gabinete com
uma sumptuosa vista sobre Manhattan.
Moral da história: aquele mundo não tem mesmo nada a ver
com a crise dos países periféricos, a despeito dos moralistas que nos querem
fazer crer o contrário. É um mundo autónomo, com as suas leis (do negócio do
dinheiro que se alimenta de si próprio, à margem da economia ou contra ela) e a sua moral ( a dos 'ganhadores' que gostam de argumentar que quanto mais
eles ganham, mais oportunidades têm os que perdem).
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