domingo, 18 de março de 2012

O RISCO DOS OUTROS



No mundo da finança 'criativa', as fórmulas duram enquanto dão dinheiro. Não é preciso ser-se particularmente crédulo para seguir uma moda e fazer como os que estão no negócio fazem.

No filme de J. C. Chanders, "Margin Call", um "descontente", antes de ser posto na rua, com um terço do pessoal, numa daquelas 'metamorfoses' a que as 'big corporations' se sujeitam, como as serpentes quando mudam de pele, procurava  falhas nesse modelo matemático dispensador de tantos bónus milionários,  e encontrou-as logo. O negócio estava mesmo várias vezes falido, o que motivou várias reuniões de emergência  pela madrugada dentro.

A presidir, um impiedoso John Tuld (Jeremy Irons), que nem por um momento perdeu a fleuma. Se foi a inteligência que 'quebrou' a fórmula, não foi ela,  de modo nenhum, que pôs o patrão dos patrões no lugar em que estava.

O plano passa por vender a matéria tóxica nas primeiras horas do dia seguinte e 'reestruturar' sem dó nem piedade. Como vimos com o caso da Lehman Brothers, tudo entrou na ordem, sem culpados pela destruição da poupança e do desastre económico. É assim mesmo que a coisa funciona.

O jovem especialista em mísseis balísticos que conseguiu, de um modo tão oportuno, demonstrar que os algoritmos tinham ultrapassado o prazo de validade, é chamado para o novo jogo dos milhões.

No dia segunte, Tuld toma tranquilamente o pequeno-almoço no seu gabinete com uma sumptuosa vista sobre Manhattan.

Moral da história: aquele mundo não tem mesmo nada a ver com a crise dos países periféricos, a despeito dos moralistas que nos querem fazer crer o contrário. É um mundo autónomo, com as suas leis (do negócio do dinheiro que se alimenta de si próprio, à margem da economia ou contra ela) e a sua moral ( a dos 'ganhadores' que gostam de argumentar que quanto mais eles ganham, mais oportunidades têm os que perdem).

 

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