quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

REPRODUÇÃO

Arthur Schopenhauer


"Imaginai por um instante que o acto da geração não fosse nem uma necessidade nem uma volúpia, mas um caso de pura reflexão e de razão: a espécie humana poderia ainda subsistir?"

(Paul Virilio, citando Schopenauer)


Parece-me que existe aqui uma situação parecida com a da fé em qualquer religião estabelecida. Se não existisse um trabalho e uma organização para salvaguarda da memória e da tradição, depressa a fé perderia todos os testemunhos de que precisa.

Nunca é de mais repetir que nunca começamos nada de novo. Continuamos e introduzimos pequenas variações, quase sempre involuntárias (devem considerar-se assim todas as acções  e revoluções que não correm conforme a ideia), como na selecção das espécies pela natureza.

A nossa sobrevivência, enquanto espécie, tem sido "assegurada" pelo instinto "genesíaco", mas é óbvio que com esse instinto concorrem fortes razões culturais que ora o moderam, ora o exacerbam, num sentido ou noutro.

A sociedade ocidental parece estar cada vez mais dependente de correcções institucionais das condições de reprodução da espécie. A liberdade do indivíduo para escolher, ou "assumir" o seu perfil sexual é uma das razões por que a reprodução terá de deixar se ser gerida pelo acaso, ou pela "providência" da Natureza, devendo responder pela afirmativa à questão levantada por Schopenauer (um misógino, por sinal).

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