Depois de ter visto o filme, pergunto-me se o que
ressalta dele é a personalidade de Margareth Thatcher. Se o que nos é dado a
ver é, de facto, a mulher que ela foi, a sua carreira política e as qualidades que pôs ao serviço das suas
ideias.
Porque a retrospectiva, a partir da velhice e da doença,
só pode diluir a importância dos actos e do carácter da pessoa na grande
torrente do destino comum. Poder-se-ia concluir, com o Eclesiastes, que tudo é
vaidade, e que antes da líder do partido ter sido abandonada pelos seus
correlegionários (com fundadas razões, dados os seus tiques autoritários?), o
corpo já começara a traí-la, preparando-lhe a triste glória de sobreviver a si
própria.
Há tanto mais razões para achar que o filme, no fundo,
desvaloriza a política, quanto a história nos deixa na incapacidade de decidir
quais são os verdadeiros motivos que justificam que o seu retrato emparelhe com
os de Lloyd George e Churchill no célebre "number ten".
Ora, o mito da "Dama de Ferro" explica muito do
sucesso "póstumo" da personagem. Empregando o seu estilo
característico, apetece dizer que aquele epíteto corresponde à imagem de alguém
que se confrontou com uma cultura política de conciliadores e em que se prezam
mais os sentimentos do que as ideias. E isso está, evidentemente, no filme. Mas
também ali estão as reacções duma sociedade que não vê na firmeza e na
convicção dos seus líderes um valor em si mesmas.
É também verdade que a decadência física e intelectual da
antiga primeira-ministra contribui para reforçar uma impressão de sinceridade
retrospectiva e de grandeza na forma como lidou com a queda do "pedestal".
Tudo somado, Phyllida Lloyd deu-nos um filme que só pode
deixar insatisfeitos tanto os admiradores de Thatcher como os que a odiaram, e
isso talvez seja um bom sinal em termos cinematográficos. Contudo, o mérito
principal é o de ter proporcionado a Meryl Streep uma interpretação que só pode
deixar rendidos todos os partidos.
0 comentários:
Enviar um comentário