Charles Ponzi em 1920 |
"Gorbachev foi, nas palavras de um dos seus últimos
conselheiros, Andrey Grachev, 'um erro genético do sistema'"
(Archie Brown:
"The Gorbachev Factor")
A situação tem alguma analogia com os chamados esquemas
Ponzi. Difere-se a consciência da crise até ao momento em que, por acaso (mas
é verdade que a probabilidade da
"revelação" se torna cada vez maior com o tempo), se encontra um
detalhe revelador da enormidade do "esquema".
As novas gerações, por outro lado, têm motivos mais fortes
para pôr em causa a "naturalidade" do sistema e para descobrirem as incongruências
da ideologia.
Mas em que é que poderia consistir, na URSS, o
"esquema"? Houve um período em que, ultrapassado o stalinismo e a
guerra mundial, todas as esperanças pareciam possíveis. Nesse aspecto, a China, desde Deng, vacinou-se contra uma
"revelação" catastrófica, desossando a ideologia, com um pragmatismo
que faz inveja aos pragmáticos ocidentais. Hoje não há esquema Ponzi nesse
país, porque o regime não precisa de camuflar a ditadura. Basta que consiga manter a
"performance" económica e o seu firme desenvolvimento social para
reduzir a palavreado todas as alternativas.
A URSS era outra coisa. Era a utopia realizada e, frente
à "democracia burguesa" e aos "crimes do capitalismo", representava a verdadeira democracia e uma sociedade mais justa e
mais igualitária, isso apesar dos flagrantes
desmentidos da realidade.
Tal como os falsários do Ponzi, tinham de compensar com
novos crentes o número cada vez maior dos lúcidos e dos desiludidos.
Vê-se, por aqui, como a questão da linguagem e da representação foi decisiva
para o fim do "império soviético".
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