segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

PONZI

Charles Ponzi em 1920

"Gorbachev foi, nas palavras de um dos seus últimos conselheiros, Andrey Grachev, 'um erro genético do sistema'"

 (Archie Brown: "The Gorbachev Factor")


A situação tem alguma analogia com os chamados esquemas Ponzi. Difere-se a consciência da crise até ao momento em que, por acaso (mas é verdade que a  probabilidade da "revelação" se torna cada vez maior com o tempo), se encontra um detalhe revelador da enormidade do "esquema".

As novas gerações, por outro lado, têm motivos mais fortes para pôr em causa a "naturalidade" do sistema e para descobrirem as incongruências da ideologia.

Mas em que é que poderia consistir, na URSS, o "esquema"? Houve um período em que, ultrapassado o stalinismo e a guerra mundial, todas as esperanças pareciam possíveis. Nesse aspecto, a  China, desde Deng, vacinou-se contra uma "revelação" catastrófica, desossando a ideologia, com um pragmatismo que faz inveja aos pragmáticos ocidentais. Hoje não há esquema Ponzi nesse país, porque o regime não precisa de camuflar a ditadura. Basta que consiga manter a "performance" económica e o seu firme desenvolvimento social para reduzir a palavreado todas as alternativas.

A URSS era outra coisa. Era a utopia realizada e, frente à "democracia burguesa" e aos "crimes do capitalismo", representava a  verdadeira democracia e uma sociedade mais justa e mais igualitária, isso apesar dos flagrantes desmentidos da realidade.

Tal como os falsários do Ponzi, tinham de compensar com novos crentes o número cada vez maior dos lúcidos e dos desiludidos.

Vê-se, por aqui, como a questão da linguagem e da representação foi decisiva para o fim do "império soviético".

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