sábado, 25 de fevereiro de 2012

NINGUÉM É ESTÚPIDO...



"Se a estupidez, com efeito, vista de dentro, não se parecesse, até ao ponto da confusão, com o talento, se, vista de fora, ela não tivesse todas as aparências do progresso, do génio, da esperança e do melhoramento, ninguém quereria ser estúpido e não haveria estupidez."


"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)



Isto é no que pensava Sócrates ao dizer que ninguém é mau voluntariamente. "Mal échoir", donde vem "méchant" (mau), em francês, quer dizer "cair mal", como assinalou Alain. Quem cai está sujeito a uma força, não é livre enquanto massa atraída pela terra. A tese é a de que só somos maus porque não pensamos, ou porque pensamos mal. Como o Cálicles de Platão, temos pressa em ferrar o dente.

É claro que, no caso da estupidez, se passa o mesmo. E basta a precaução de se saber estúpido para interrompermos ou não iniciarmos a acção e, nesse momento, deixarmos de o ser.

Podia-se dizer que assim como todos estão sujeitos a cair, também a estupidez nos espreita a todos. Mas há a que resulta dum entorpecimento do espírito ou da dificuldade do problema e a que é o fruto amadurecido da doutrina. Foi assim, que Ptolomeu, durante muito tempo, continuou a reger a astronomia, mesmo depois de Copérnico ter publicado o seu tratado. A doutrina da Igreja,  ao rejeitar a ideia heliocêntrica era, de facto, estúpida, mas é preciso ver também aqui o que fez a Igreja "cair": e era o caso de ter de mudar muito se abraçasse a "nova" ideia. E não se mudam só as ideias, mudam-se as pessoas, mudam-se os cargos e as funções . 

Por isto se vê que a estupidez governa o mundo. E a inteligência tem de esperar a sua oportunidade.

O mestre nestas coisas é Descartes que tão bem soube deslindar a "união do corpo e da alma", e cujo dualismo é a coisa menos compreendida na história da filosofia. É preciso ler Alain.

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