Nicolau Copérnico em Roma |
Numa altura em que a Inquisição teria mandado para a
fogueira quem beliscasse algum dos dogmas da Igreja, Copérnico apresentou a sua
hipótese cosmológica que iria obrigar os guardiões da ortodoxia a fazer um giro
de 180 graus, porque o texto bíblico entrou em aberta contradição com a
ciência. E já dizia Agostinho que "sempre que o significado literal da
escritura chocasse com informação científica de confiança, o intérprete devia
respeitar a integridade da ciência, sob pena de trazer o descrédito à escritura"
(Karen Armstrong, "The case for God").
A hipótese do astrónomo não era, com efeito, apenas uma
interpretação diferente, herética, da Natureza. Era uma ordem de pensamento
diferente, com verdades estabelecidas não teologicamente.
"Copérnico tinha oferecido a sua hipótese 'sub
imaginationem', no modo tradicional, e quando leu o seu tratado no Vaticano em
1534, o papa deu-lhe cautelosa aprovação." (ibidem)
A "indigestão" durou quase um século, até que o
tratado foi, finalmente, colocado no Índex. Este desfasamento deixa-nos a
sonhar. Mas era assim que as coisas "amadureciam", até que as
opiniões se fortaleceram e a especulação dum monge polaco se pôs a fazer mais
sentido, para as ideias do tempo, do que a fábula do "Génesis".
O anacronismo de algumas seitas americanas que insistem
ainda, contra Agostinho, na interpretação à letra dos textos sagrados, só tem
comparação com a contumácia do partido republicano e do movimento conservador
em continuar a defender a economia desregulada, como se nada se tivesse
passado.
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