Um discurso de Rosa Luxemburg |
"Os bolcheviques certamente cometeram mais de uma
falta na sua política e sem dúvida ainda cometem - que nos citem uma revolução
em que nenhuma falta foi cometida! A ideia de uma política revolucionária sem
falhas, e sobretudo nesta situação sem precedente, é tão absurda que é digna só
de um mestre-escola alemão."
"Écrits politiques" (Rosa Luxemburg)
Rosa Luxemburg escreveu estas linhas nos primeiros anos
da Revolução, quando se podia ainda falar em faltas e as políticas eram mais
ditadas pelos acontecimentos e pela situação de emergência do que pelos nobres
ideais dos bolcheviques.
A verdade é que nada se começa absolutamente (a não ser a
vida e os novos seres), mas se continua o que já aconteceu e o que já faz parte
do mundo. A explosão social que permitiu a um grupo de homens, com audácia e organização,
ocupar a estrutura do estado impôs uma rota e não outra, e não a que se queria.
É como um movimento de cólera com que temos de nos arranjar, mas que,
entretanto, já feriu susceptibilidades e, porventura, nos ganhou inimigos para
a vida. Se os princípios da Revolução tivessem sido pacíficos, não teria
vencido o stalinismo, que já não foi uma "falta", nem uma sucessão de
faltas, mas uma política deliberada e "conservadora", no sentido em
que o gelo conserva. Staline foi o homem necessário a esta glaciação.
Na altura, os bolcheviques teriam rido da ideia de uma
revolução pacífica. Terá sido o 25 de Abril uma revolução? Mas o caso é que,
nas últimas décadas, conhecemos uma verdadeira revolução que não faz mártires
nem réprobos e que é a mais pacífica que se pode imaginar. São as
transformações sociais e culturais operadas pela tecnologia. Depois de cada
vaga dessa revolução, nada fica como dantes.
No campo da economia, podem-se apontar duas revoluções
pacíficas: a causada pela inflação, que redistribui a riqueza, geralmente dum
modo mais injusto, sem que nenhuma política do governo pareça estar por detrás
dela (o que é, evidentemente, falso), e a austeridade do género daquela que nos
está a ser imposta pelos banqueiros europeus.
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