Tristan Pate as Levin, Elizabeth Twells as Anna |
(Arcola Theater, London)
"Enquanto ouvia a discussão do seu irmão com o
professor, notou que eles ligavam estas questões científicas a esses problemas
espirituais, e que em certas alturas quase os afloravam; mas sempre que estavam
muito perto do ponto que lhe parecia crucial, prontamente batiam em retirada e
mergulhavam outra vez num mar de subtis distinções, reservas, citações, alusões
e apelo para autoridades, de tal modo que lhe era difícil perceber de que estavam a
falar."
"Anna Karenina" (Leão Tolstoi)
Levin conhecia o tema duma revista que lera.
Interessava-se pelas questões científicas, com o diletantismo das classes
ociosas, e porque parecia ser próprio dum homem com o seu estatuto e as suas
ideias progressistas, estar informado dessas coisas.
Mas o que lhe interessava, realmente, eram aquelas
ideias, velhas como a humanidade, sobre o significado da vida e da morte, quem
somos e para onde vamos, etc. A sua atenção fora despertada para a hipótese da
ciência estar de algum modo ligada a essas questões "existenciais",
como se dizia, pejorativamente, nos meus tempos de militância ( não era senão a
vontade de afirmar a importância da nossa "acção", comparada com as
ideias confusas que permitiam aos outros alhear-se).
Se o irmão de Levin e o professor Sergey Ivanovitch
rodeiam a questão, é porque, segundo o pensamento do escritor, a ciência,
deliberadamente, a ilude. Desde que se separou da filosofia, fez um caminho
solitário e cheio de êxitos retumbantes, mas, no seu orgulho, esqueceu-se de
declarar o que levava de filosofia debaixo do capote.
A ciência moderna, depois de Tolstoi, já poucas dúvidas
tem da existência, no seu âmago, dum "ponto cego", a questão crucial
para Levin. O grande progresso é que, paradoxalmente, a ciência consegue avançar tanto mais quanto mais estiver consciente disso.
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