Parténon |
"(...) não se pode tirar dum tal estado uma
convicção; pelo menos sem ter de imediatamente abandoná-lo, como um amante tem
de sair do seu amor para o poder descrever."
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
E mais à frente, vem isto: "Sem dúvida é justo e
natural que se queira saber antes de deixar a palavra ao sentimento."
Era preciso então que nos "apeássemos do
cavalo", para o vermos todo, mas, infelizmente, sem cavaleiro.
A imagem do centauro é mais expressiva do que a primeira
leitura da mitologia no-lo dá a ver. Não terá sido por acaso que Platão, quando
tenta descrever a alma, emprega a figura do cocheiro e dos dois cavalos no
"Fedro". Estes representam o desejo do Céu e o desejo da Terra, sendo
aquele que os conduz a própria Razão. A natureza compósita e em conflito
consigo própria da alma (cada animal puxa para o seu lado) é o que diferencia
os homens dos deuses. E esta diferença é a própria vida, visto que o Olimpo não
é a vida, mas uma grandiosa projecção nas estrelas.
Mas é verdade que todos podemos, como o amante de que
fala Musil, "sair" do amor, seja para o descrever, perdendo-o num
sentido, e noutro ganhando-o para uma outra dimensão, seja para "fazer o
luto". E estas opções
afiguram-se-me agora como tendo algo em comum, porque ambas perdem o
sentimento.
Por outro lado, como todos "entramos e saímos"
várias vezes na vida e mesmo em cada dia que passa, é preciso crer que o amor é
o melhor exemplo da "ressurreição".
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