Robert Schumann |
"(...) Schumann não permite que se entenda a sua
música a não ser ao executante, ainda que a toque mal. Sempre me chamou a
atenção este paradoxo: um determinado fragmento de Schumann entusiasmava-me
quando o estava a tocar ( de maneira
aproximativa) e que quando o escutava em disco causava-me uma certa decepção."
"O óbvio e o obtuso" (Roland Barthes)
A mim parece-me natural que a música ouvida em casa,
passivamente, sem a disciplina e atenção sustentada duma assembleia de
ouvintes, é uma experiência, de algum modo, decepcionante. Quem pode
executá-la, poderá, naturalmente, sentir de forma muito diferente, porque aí
existe o estímulo de a fazermos.
De todas as artes, a música é a que mais apoio precisa
para a atenção, porque é invisível e se apresenta (ia dizer "se
trava") no próprio campo em que surgem os nossos pensamentos. É claro que
uma certa música pode iludir o problema da atenção porque o seu campo é a pele
e o enervamento euforizante. E não é verdade que mesmo os melhores exemplos têm
no ritmo e na bateria as "muletas" indispensáveis para ocupar todo o
"espaço"?
Por outro lado, estudar ou ler, com música de fundo não
é, verdadeiramente, escutá-la.
Se, em literatura, todos os resumos são maus ( e só os
americanos podiam acreditar nas virtudes do "Reader's Digest"), a
impressão que nos deixa a música reduzida a um ambiente é isso mesmo: uma
impressão. A impressão do espírito domesticado.
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