domingo, 26 de fevereiro de 2012

A DECEPÇÃO DA MÚSICA

Robert Schumann


"(...) Schumann não permite que se entenda a sua música a não ser ao executante, ainda que a toque mal. Sempre me chamou a atenção este paradoxo: um determinado fragmento de Schumann entusiasmava-me quando o estava  a tocar ( de maneira aproximativa) e que quando o escutava em disco causava-me uma certa decepção."

"O óbvio e o obtuso" (Roland Barthes)



A mim parece-me natural que a música ouvida em casa, passivamente, sem a disciplina e atenção sustentada duma assembleia de ouvintes, é uma experiência, de algum modo, decepcionante. Quem pode executá-la, poderá, naturalmente, sentir de forma muito diferente, porque aí existe o estímulo de a fazermos.

De todas as artes, a música é a que mais apoio precisa para a atenção, porque é invisível e se apresenta (ia dizer "se trava") no próprio campo em que surgem os nossos pensamentos. É claro que uma certa música pode iludir o problema da atenção porque o seu campo é a pele e o enervamento euforizante. E não é verdade que mesmo os melhores exemplos têm no ritmo e na bateria as "muletas" indispensáveis para ocupar todo o "espaço"?

Por outro lado, estudar ou ler, com música de fundo não é, verdadeiramente, escutá-la.

Se, em literatura, todos os resumos são maus ( e só os americanos podiam acreditar nas virtudes do "Reader's Digest"), a impressão que nos deixa a música reduzida a um ambiente é isso mesmo: uma impressão. A impressão do espírito domesticado.


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