Mission: Impossible III |
"Imaginam-se os esforços consideráveis e
provavelmente vãos que são precisos para provocar revoluções parecidas nas
circunstâncias da vida pela via consciente do desenvolvimento intelectual, que
passa pelos filósofos, os pintores e os poetas, em vez de seguir o caminho dos
alfaiates, da moda e do acaso; pode-se medir por aí o imenso poder criador da
superfície, comparado à obstinação estéril do cérebro."
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
É por isso que o contrato que a China e os EUA estão em
vias de estabelecer para a importação, pelo regime comunista, de filmes
americanos, com destaque para o formato 3D, como "Avatar" ou
"Mission: Impossible", para além de ser um sintoma de que a ortodoxia
está a perder o fôlego para inspirar as massas populares, parece destinado a
ter largas consequências, dada a procura exponencial do "fantástico".
Como diz o NY Times (aqui), este tipo de produção (o 3D)
tem por objecto um mundo que nada tem a ver com a realidade que as pessoas
vivem. Parece, assim, corresponder a uma política de evasão que, é verdade, não
é diferente da servida noutras latitudes com o futebol e as telenovelas.
Mas a censura da realidade é a outra face da moeda, num
regime onde não funcionam as liberdades "burguesas". Aquele periódico
refere, a esse propósito: "Um filme tão fantasioso como "Mission:
Impossible III”, apesar de tudo, requereu alguma montagem (editing) para o
mercado chinês: cenas pouco lisonjeiras que mostravam a roupa dependurada em
Xangai tiveram que ser cortadas para a seu lançamento em 2006."
Como se vê, não foi a Google a primeira empresa a
submeter-se à "realpolitik". É que o mercado do cinema na China
passou de 2,1 mil milhões de bilhetes vendidos no ano passado para uma
expectativa de 5 mil milhões este ano.
O importante, porém, é que estes desenvolvimentos "à
superfície", não levam necessariamente a "água ao moinho" dos
responsáveis por esta política "cultural". Mas também ninguém disse
que ela poderia ter sido evitada...
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