"Auto-retrato" (Francis Bacon) |
"Aquilo que eu ponho em questão, é a estética: este
valor acrescentado, esta mais-valia cultural atrás da qual o valor próprio
desaparece. Não se sabe mais onde está o objecto. Só existem discursos em volta
ou olhares acumulados que acabam por criar uma aura artificial."
"De la singularité, il n'y a rien à dire" (Jean
Baudrillard)
O exemplo escolhido pelo filósofo é Bacon. E a tese é a
de que se é um facto que abundam os comentários sobre esta pintura, se há
alguma coisa a dizer a propósito, não estamos perante um objecto original, na
sua arte, mas em pleno discurso.
É claro que essa "aura artificial" (mas não o
são todas?) não impede que o objecto original exista, só que o faz migrar para
um outro sistema de valor. Por que é que os "Girassóis" de Van Gogh
hão-de valer mais do que um desenho de Ingres?
Mas se não fosse o mercado da arte, ou se toda a arte
estivesse nos museus, não haveria, realmente, tanta necessidade de
"fundamentar" e de criar um valor sistemático. A estética, isto é, a
cultura, não pode lidar com singularidades: "O ponto cego da singularidade
só pode ser aproximado singularmente. Isso é contrário ao sistema da cultura
que é um sistema de trânsito, de transição, de transparência." (idem)
Não se pode
repetir a experiência do "Salão dos Rejeitados" com a obra de Francis
Bacon, quanto mais não seja porque as ideias ( ou a falta de ideias) do
'politicamente correcto' fizeram o seu caminho.
Quem poderá descobrir a singularidade desta obra dentro
da nossa cultura?
0 comentários:
Enviar um comentário