Virgem de Smolensk (artista desconhecido) |
“Um cidadão de Antioquia, Síria, Lucas escreveu o terceiro Evangelho e o Acto dos Apóstolos. (…) De acordo com uma tradição do século V e baseada em antigos ícones de Antioquia e de Tebas atribuídos ao evangelista (ícones mais tarde transferidos para Constantinopla e Rússia), Lucas foi o primeiro a pintar a Theotokos (Mãe de Deus),”
“Icons and Saints of the Eastern Orthodox Church”
(Alfredo Tradigo)
Nas polémicas sobre a
perene virgindade de Maria que é, naturalmente, contra-intuitiva, ou de decidir
se os irmãos referidos, por exemplo, em Matias, são meios-irmãos (filhos dum anterior
matrimónio de José) ou apenas primos (a teoria oficial da Igreja é que na
origem está um erro de tradução, porque os Hebreus só tinham uma palavra para
irmão e primo), vem-me sempre ao espírito o dilema jornalístico do filme de
John Ford, “O homem que matou Liberty Valance “.
A lenda é que o “herói” Ranson Stoddard (James Stewart) matou o perigoso
fora-da-lei (Lee Marvin). Mas, na verdade, quem acertou de morte foi Tom
Doniphon (John Wayne), com um tiro simultâneo que se confundiu num mesmo
estampido. Esse herói nunca reivindicou os louros.
Esta era a verdade.
Mas entre a verdade e a lenda, o editor do jornal local, com olho comercial,
decidiu-se por manter a lenda, porque é sempre mais popular.
O método histórico
não se pode aplicar às lendas, mas as lendas tem a sua verdade. São símbolos
que irradiam sentido.
A tradição sobre
Lucas pintor do primeiro ícone da Theotokos e da Virgem de Smolensk talvez seja
apenas uma lenda, mas que é bela e que liga a representação “ingénua” de Maria
ao começo do próprio Cristianismo, não restam dúvidas, parece-me. E a religião, no fundo, tem mais a ver com a beleza do que com a verdade histórica.
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