segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

PARTIDAS

"Departures" (Yôgirô Takita)



O tema faz lembrar a novela “The loved one” de Evelyn Waugh, ou a série “Six feet under”, mas dum modo elegíaco-metafísico que não rejeita o humor.

Daigo (Masashiro Motoki) perde o emprego de violoncelista porque o dono da orquestra constata que não tem público para Beethoven. A sua nova oportunidade é um ofício que ninguém deseja: o de tanato-esteta. A sua função é a de preparar o morto para deixar à família uma última imagem de beleza, adiando por um instante a ruína iminente, antes da consumação pelo fogo.

Daigo passa por uma verdadeira iniciação que começa pelos vómitos e a rejeição social para encontrar o sentido religioso do rito. É uma dança delicada que o tanato-esteta executa com a beleza e a gravidade que falta aos originais americanos, diante do grupo dos íntimos na tradicional postura de joelhos. Em todos os gestos é preciso, sobretudo, evitar que o corpo seja visto, mesmo se é preciso despi-lo e lavá-lo. Todo o corpo é máscara e é a última máscara.

Mesmo se a prática é mais uma das aculturações do Japão moderno, ela neste filme tem a autenticidade do seu teatro  ou da sua caligrafia.

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