"A morte de Sócrates" (David) |
“Como
qualquer ritual, (a experiência filosófica) era um trabalho extremamente
difícil, requerendo uma grande despesa de tempo e muita preocupação. Tal como
Sócrates, Platão insistia que ela devia ser conduzida duma forma gentil,
compassiva, de modo a que os participantes ‘sentissem com’ os seus parceiros: ‘Só
quando todas estas coisas, nomes e definições, sensações visuais e outras, se
misturam e são sujeitas a testes nos quais perguntas e respostas se trocam de
boa fé e sem malícia, é que, finalmente, quando a capacidade humana é estendida
até o seu limite, uma faísca de compreensão e inteligência irradia e ilumina o
assunto em questão’”. (Carta Sétima)
“The case for God” (Karen Armstrong)
A compreensão e a
inteligência como experiência total, envolvendo o corpo e o espírito, é algo
que já é estranho para nós. A identificação da experiência filosófica com uma
iniciação prática que tinha tudo a ver com a estética e o ritual religioso era,
no tempo de Platão, algo de natural e que remontava às origens da filosofia.
Embora, sempre tendo
em conta os limites da razão, não se deixou, porém, de desenvolver o seu poder (o
célebre argumento ontológico de Santo Anselmo é um dos pontos altos dessa
tendência) até o ponto em que a ciência pôde separar-se e voar segundo a sua
própria lei. Foi aqui que o Ocidente perdeu de vista o Oriente “fanático”, o Oriente “donde vem tudo, o dia e a fé”, nas
palavras do poeta.
Mas ainda hoje
podemos verificar a justeza daquela passagem da carta de Platão. Sabemos que a
boa fé e a ausência de malícia são indispensáveis para alcançar a verdade. A
condição que se exige dum verdadeiro diálogo é a mesma que praticamos connosco mesmos no
nosso monólogo interior (ou no dois em um de Arendt). Não nos mentirmos nem nos
deixarmos influenciar por outro interesse que não o da justiça, no seu sentido
mais lato.
Usamos, por isso,
dois critérios de verdade: um em relação àquilo a que chamamos, desde os
Gregos, a Natureza, onde dominam as leis científicas e outro para o Homem onde
prevalece a justiça.
Mas não deverá a
justiça ser também critério da ciência?
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