Em “Les amants” (Louis Malle-1958), Jeanne Moreau,
ao amante que ao jantar acabava de travar um duelo de boas-maneiras com um
marido desconfiado e a assaltava, como de paixão, no corredor: “c’est dangereux, c’est bête! »
A língua francesa reúne na mesma palavra o animal
e o estúpido, que em português se separam tão definitivamente.
Mas que estupidez é essa a que estamos todos
sujeitos?
A loucura, por exemplo, não é estupidez. Pode até
ser inteligente, mas falha a prova do real (na esquizofrenia, por exemplo). Não
pode estar segura de nada, e há uma certeza que está mais próxima da loucura do
que da razão.
Uma certa tradição atribui a estupidez ao
mecânico, ao que se faz sem pensar. Com isto não estaremos já a falar do
animal, do instinto, dos hábitos automáticos, dos reflexos condicionados?
No ponto de separação entre o animal e o humano,
ou encontramos a vontade livre, como queria Descartes, ou não encontramos nada.
O amor que, no filme de Malle, tinha resistido à
prudência uma hora antes, não sobreviveu ao ridículo duma cena de reportório.
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