sábado, 11 de dezembro de 2010

O ANIMAL ESTÚPIDO






Em “Les amants” (Louis Malle-1958), Jeanne Moreau, ao amante que ao jantar acabava de travar um duelo de boas-maneiras com um marido desconfiado e a assaltava, como de paixão, no corredor: “c’est dangereux, c’est bête! »

A língua francesa reúne na mesma palavra o animal e o estúpido, que em português se separam tão definitivamente.

Mas que estupidez é essa a que estamos todos sujeitos?

A loucura, por exemplo, não é estupidez. Pode até ser inteligente, mas falha a prova do real (na esquizofrenia, por exemplo). Não pode estar segura de nada, e há uma certeza que está mais próxima da loucura do que da razão.

Uma certa tradição atribui a estupidez ao mecânico, ao que se faz sem pensar. Com isto não estaremos já a falar do animal, do instinto, dos hábitos automáticos, dos reflexos condicionados?

No ponto de separação entre o animal e o humano, ou encontramos a vontade livre, como queria Descartes, ou não encontramos nada.

O amor que, no filme de Malle, tinha resistido à prudência uma hora antes, não sobreviveu ao ridículo duma cena de reportório.

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