“Plutarco
‘opõe esta execrável liberdade (da igualdade) à verdadeira, a que ele chama
também parrêsia: poder falar sem medo ao
soberano, falar-lhe de igual para igual (isêgoria), eis a libertas, o franco-falar; eis a liberdade
sob o Império.’”
“Le pain et le
cirque” (Paul Veyne)
É curioso como muitos
de nós têm a ideia de que o sistema democrático, hoje, se reduz à parrêsia:
poder tratar Sócrates como um igual e poder dizer mal do Governo.
A Revolução de Abril
(talvez se comece a pensar que “Revolução” não é a palavra exacta), com todas
as suas promessas e a sua grande esperança serviu “apenas” para nos pôr no
caminho da modernidade e nos tornar menos diferentes dos nossos vizinhos
europeus.
Não entrava na cabeça
de Plutarco que a estrutura de classes do Império pudesse ser outra, e a ideia
duma igualdade universal, para além da igualdade da condição de mortal (como
diz Veyne, os Romanos não confundiam o imperador divinizado com os verdadeiros
deuses), tinha ainda que percorrer um longo caminho para ser uma ideia “natural”
e do senso comum.
O certo é que em
nenhum lugar da terra se alcançou alguma vez a igualdade universal de facto.
Por isso, talvez aconteça que a utopia esconda a igualdade possível, onde ela
existe. A utopia exige nada menos do que a igualdade do poder. Nunca se viu.
Para vivermos em sociedade temos que consentir num poder maior do que o nosso.
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