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“Dito
de outro modo, a verdadeira questão seria: ‘existe rotina ou racionalização?’
Por um lado, um capital ou uma empresa lucrativa devem ser geridas como o faria
um ‘bom chefe de família’ e a racionalidade proíbe que se tomem demasiados
riscos, porque uma empresa quer antes de tudo conservar-se a si mesma. Por
outro lado, gere-se mal um património quando se negligenciam as ocasiões de
ganho e os investimentos: mesmo os escravos de que fala o Evangelho têm o dever
de emprestar a juros as somas que o seu senhor lhes confiou na sua ausência. Um
património bem gerido deve render como um capital e um capital bem gerido deve
estar em tanta segurança quanto um património.”
“Le pain et le
cirque” (Paul Veyne)
Pode ser que a
passagem do Evangelho sobre os deveres dos escravos, a quem o senhor entregou
um capital, não seja o melhor exemplo de moral, porque se encontra assim
justificada a pior usura e até os
excessos de alguns “investidores” na
presente crise mundial. Afinal eles talvez estivessem apenas embriagados pela
velocidade de multiplicação dos simulacros da riqueza, talvez tivessem corrido
demasiados riscos (mas “quem não arrisca não petisca”) porque o próprio sucesso
imediato fazia prova. E quem pode exigir a esses jovens esqualos da bolsa (e outros não tão jovens quanto isso),
encantados com o seu poder, como o “aprendiz de feiticeiro”, a maturidade e a sabedoria da
experiência?
É claro que há uma
grande diferença em relação à parábola: os escravos não se tornaram
multimilionários com o capital confiado pelo patrão. Mas estamos certos de que,
mesmo se os seus mandatários tivessem fintado a lei, o patrão os repreenderia
pela “multiplicação do seu capital”? Isso só aconteceria se em vez de
multiplicar, ele desmultiplicasse...
Vejamos o que diz
Kaldor (“Essays in Economic Stability and Growth”), citado por Veyne: “Na minha opinião, o desenvolvimento
económico acelerado dos dois últimos séculos só se pode explicar por uma
mudança das atitudes humanas diante do risco e do lucro (...)”
Então o quê?
Aceleração a mais ou falta de ética?
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