“Estamos
tão desesperados para encontrar uma maneira de controlar os terrores que nos
cercam, que inventámos a culpa como pedra de toque das nossas explicações.”
“Evil in modern thought” (Susan Neiman)
O homem primitivo,
acossado pelos perigos da sua existência, não pensava. O alerta permanente não
é pensamento. Pensar é um luxo da civilização, e só quando nos vemos privados
das condições mínimas de segurança é que percebemos quanto a nossa mais nobre
função depende da ordem social.
Além disso, todos
experimentámos na infância o terror puro, que tal como o da espécie, nunca
desaparece de todo. "Se isto é um homem" duvidava Primo Levi, falando do
prisioneiro dos campos. É assim. A todo o momento podemos perder o pensamento,
e a morte é só uma das máscaras do terror infantil.
Nestas condições, a
ideia da culpa é uma escapatória. Permite-nos atribuir a nós mesmos os pequenos
males e o desabar do mundo, o que nos dá a ilusão de controlarmos as coisas.
Mais vale saber que sofremos porque caímos no desagrado dos deuses por causa
dos nossos actos, do que não chegar a saber o que nos acontece.
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