quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

SUBTIL CONTRA O SISTEMA

Torre Eiffel e a École Militaire (http://www.rentmyhomeinparis.com)


“O inspector-geral mostrou um rosto descontente. Quando apanhou o professor longe dos olhares: ‘Meu caro,’ disse-lhe ele, ‘você insiste demasiado sobre isso de que somos ‘burros velhos’ a que no entanto é preciso obedecer! E isso vai directamente contra a sua conclusão. Porque, se é melhor acreditar que o comando não se engana, por que supõe você mesmo que ele se engana?’ ‘Mas’, disse o outro, ‘justamente eu explico por que não se deve dizer que ele se engana, nem mesmo dizê-lo a si mesmo.’ ‘Por que então,’ diz o inspector-geral, ‘por que dizer que não se deve dizer? Pratique você mesmo a sua moral, e prove, pela história das guerras, que o nosso Estado-Maior tem sempre razão. E não diga que isso não é fácil de provar: porque a ideia mesma é prejudicial, sendo contrária ao espírito de execução.’ Foi assim que o curso de moral foi substituído por um curso de estratégia e que o tenente-coronel Subtil foi despachado para as forjas e arsenais.”

“Le citoyen contre les pouvoirs” (Alain)



Pode dizer-se que o tenente-coronel que ensinava na escola militar tinha demasiados escrúpulos (estava num curso de moral, imagine-se!) para defender a obediência cega, tal como as guerras o exigem ( eu conheci um outro coronel que dizia que a maior virtude do soldado era a fidelidade canina). Mas Subtil  quer fazer justiça à capacidade de pensar dos seus homens, assim como que a pretender dourar a obediência forçada por um consentimento da razão. Alain diz que Subtil é mais um jansenista perdido no exército.

A verdade é que a lógica militar é o contrário da liberdade do espírito e impõe-se tanto à “belle âme” como o mais rotundo beócio.

Por isso, não há mal maior e mesmo a prepotência dum chefe ou da direcção duma empresa é moderada  em comparação. 

Existirá alguma preparação “democrática” para a guerra? Não é o que se vê nos filmes americanos.

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