“Quando
o Novo Testamento foi traduzido do Grego para o Latim por S. Jerónimo
(c342/420), pistis tornou-se fides (“lealdade”). Fides não tinha forma verbal, assim,
para pisteuo, Jerónimo utilizou o verbo
latino credo, uma palavra derivada de cor do
(“dou o meu coração”). Ele não pensou em utilizar opinor (“tenho uma opinião”). Quando a
Bíblia foi traduzida em Inglês, credo e pisteuo tornaram-se “I believe” na versão do Rei Jaime (1611).
Mas a palavra “belief” desde então mudou o seu significado.
No Inglês Médio, bileven queria dizer “apreciar;
valorizar; encarecer”. Estava relacionado com o Alemão belieben (“amar”), liebe (“amado”) e o latino libido. Portanto, “belief” originalmente significava “lealdade
para com uma pessoa a quem se está ligado pelo dever ou por uma promessa.”
“The case for God”
(Karen Armstrong)
A diferença é de
monta. E o que é que mostra esta translação do significado da palavra fé que
parece, no entanto, ser o mesmo de sempre? Ela dá conta dum progressivo abandono
do mundo religioso, em que crer era mais viver de acordo com uma certa prática
( e as ideias concomitantes), a favor dum mundo “secularizado”, em que a
religião é apenas uma das opções. Mais importante ainda do que esta “especialização”
do religioso é que ela já não se confronta com as outras “modalidades” no plano
da prática, mas quase só no das ideias.
Hoje, uma pessoa
considera-se católica mesmo se não é “praticante”, isto é, se não vive dum modo
cristão. Como as ideias mais fortes, mais incorporadas, nos vêm da forma como
vivemos, a ausência do ritual religioso tem enormes consequências. Assim,
quando alguém diz que acredita num dos dogmas proclamados pela Igreja, exprime,
talvez, um compromisso e uma lealdade (no sentido original da pistis),
mais do que uma simples opinião. Mas por essa crença não ter qualquer
influência na sua vida, isso não tem qualquer relevância.
É a espécie lealdade
que todos temos em relação aos preconceitos.
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