quarta-feira, 14 de outubro de 2009

UMA VISITA AO LOUVRE



"Lembro-me como de uma coisa extraordinária – porque Proust só saía à noite – de Proust me vir buscar à rua de Anjou, numa manhã, com o fiacre de Albaret, para ir ver o S. Sebastião de Mantegna no Louvre. Tinha o ar duma lâmpada eléctrica que tivesse ficado acesa durante o dia (…). No Louvre as pessoas já não olhavam os quadros – olhavam-no a ele, estupefactas."

"Le Passé Défini" (Jean Cocteau)


O mundo da arte era o único mundo real para o Proust desse tempo (antes apenas vislumbrava essa realidade), o único que o faria alterar os hábitos nocturnos, ditados pelas necessidades da escrita. Escrita que era como a dor causada pela fome que fazia esquecer a outra dor, incurável, de Mylia, a personagem de "Jerusalém", de Gonçalo Tavares.

Mas por que levou o jovem Cocteau consigo nessa visita ao Louvre? Para poder partilhar a sua admiração pelo pintor paduano ou para pôr à prova uma teoria sobre esse quadro em especial? Em qualquer dos casos, estamos ainda no contexto da obra que se escreve.

A escultura está tão presente no quadro do Louvre que a Sebastião bem podiam faltar os braços como numa estátua antiga. Não se podia significar melhor que a arte é o próprio objecto da pintura.

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