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"O contexto é tudo, aqui: com o tempo, os voluntários, ao contrário de estranhos nos comboios (…), poderiam ter chegado a conhecer as opiniões de cada um e poderiam ter desenvolvido uma espécie de confiança que permitisse o desacordo político. Em vez disso, eles concertaram-se para estabelecer contextos em que o próprio debate é impopular."
"Avoiding politics" (Nina Eliasoph)
Mas Eliasoph cita também os israelitas que "falando com conhecimentos casuais, por exemplo, utilizam a conversa política tal como os Americanos falam dos desportos: para criar um terreno comum, com os desacordos políticos apenas acrescentando ao valor do entretimento".
Em ambos os casos, parece que existe um reconhecimento tácito de que a política, como assunto sério, ligado à acção e à palavra dos cidadãos, não está em sintonia com os valores da convivência social, com o prazer dos encontros e até com as boas maneiras…
Isto recorda-me o que Alain escreveu sobre a cortesia, palavra que em si diz tudo. A etiqueta e a extrema educação fazem abortar à nascença todo o pensamento que possa desagradar (ao contrário do que faz Pierre Bezuhov no salão de Anna Pavlovna, em "Guerra e Paz"). Quando se tem que reprimir um desses movimentos, já o acordo feliz entre dois cortesãos se desfez.
Ora, é muito curioso que a sociedade que é o paradigma da democracia moderna tenha engendrado o mesmo horror às ideias do que a corte dos Bourbons.
Este espírito não impede que a sociedade civil americana continue pujante, a julgar pelo número de organizações voluntárias, mas, na ausência do debate político, toda esta actividade parece um subproduto da religião e um exutório para uma má-consciência cultural.
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