quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A MÁXIMA DO CARDEAL


Triple Portrait de Richelieu (Philippe de Champaigne)


"Richelieu, que tinha a clareza de inteligência tão frequente nessa época, definiu em termos luminosos esta diferença entre moral e política, à volta da qual se semeou depois tanta confusão. Ele disse, mais ou menos: Devemos precaver-nos de aplicar as mesmas regras à salvação do Estado e à salvação da alma; porque a salvação das almas se opera no outro mundo, enquanto que a dos Estados só se opera neste."

"L'Enracinement" (Simone Weil)


Ora aí está uma máxima de homem de Estado que nenhum particular, se for cristão, deveria adoptar. Porque equivale a dizer que nada do que façamos neste mundo pode influenciar a salvação ou a perda da nossa alma, o que é um pouco calvinista (só pela graça e não pelas obras seremos salvos).

Por outro lado, a salvação do Estado, que é sempre neste mundo, pode justificar os maiores crimes que nem assim a moral os poderá julgar porque se trata exclusivamente de política.

Aquela máxima podia ainda ser interpretada de outra maneira, se entendêssemos, por exemplo, que por se operar no outro mundo, isto é, na eternidade, a salvação não deixa de se merecer neste mundo. Mas, assim, a política só ficaria isenta da moral por ser efémera.

Ao tornar a centralização do poder e o prestígio da França nos seus grandes objectivos, o cardeal Richelieu incorreu, algumas vezes, no desagrado da Igreja, como quando apoiou os protestantes suíços ou fez uma aliança com os Suecos, contra as ambições dos Habsburgos. Neste caso, escolheu o poder da França contra o poder da Igreja Católica, e nunca se tratou da salvação da sua alma. A não ser que a glória de Luís XIII (e a sua própria) engrandecessem a de Deus…

0 comentários: