Puritanos
"Os voluntários não dizem apenas 'Eu preocupo-me, mas acho-me impotente em relação a esse assunto'. Em vez disso, tentam estrenuamente dizer-se a si mesmos que simplesmente não se preocupam com assuntos que se sentem impotentes para controlar. Paradoxalmente, eles queriam acreditar que as pessoas são interesseiras (self-interested), precisamente porque estavam a tentar convencer-se e aos filhos que o mundo é bom, moral e que faz sentido."
"Avoiding Politics" (Nina Eliasoph)
É a teoria da mão invisível, modelo portátil. Tudo acaba em bem porque o mundo não pode funcionar melhor do que quando cada um trata da sua vida. Mas os desmentidos da realidade devem colocar problemas de consciência mesmo aos mais empedernidos.
Este pudor em reconhecer, em público, a mais pequena nuance de idealismo e de boa-vontade não paroquial, o horror de assumir posições políticas que possam dar a ideia que não existem motivos puramente pessoais nesse envolvimento, não é, como o fenómeno do apoliticismo europeu, um resultado da discussão estéril e da desilusão dos eleitores. Deve-se ver aí uma manifestação do individualismo triunfante e um genuíno espírito de independência com conhecidas raízes na história americana.
E não é sem virtude, nem sem algum realismo, que se evitam as situações de falso poder e de falso protagonismo que tanto alimentam o nosso imaginário político.
Toda essa relutância quanto à política que demonstram os voluntários de Eliasoph redunda, porém, numa irremediável separação das máquinas partidárias em relação aos problemas reais.
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