"Tu vives então como um mendigo das migalhas deixadas pelos Gregos. O que diz a isso o teu orgulho? Se encontras neles o que tu próprio pensaste, nunca esqueças que foi isso que, de um modo ou doutro, encontrou o seu caminho até ti. É realmente dos Gregos que isso te vem. O teu espírito é o seu brinquedo. Tu és um caniço sob o vento deles. Evoca, por quanto tempo te agradar, os assaltos furiosos dos Bárbaros, não é menos preciso que o teu pensamento regresse ao vento claro, ao vento vivificante e salutar dos Gregos."
"Le Territoire de l'homme" (Elias Canetti)
Porquê este privilégio dos Gregos? Não herdaram eles também, daqui e dali, o tesouro que nos legaram? Porque adoptámos a sua língua na nomenclatura científica?
Pela primeira vez, com eles, o espírito apareceu enquanto tal. Não a alma, a espécie de imagem que nos sobrevive que os egípcios e outros povos já conheciam. Mas o pensamento do pensamento.
Nessa aurora, a coisificação do espírito era ainda desconhecida. Daí essa ideia que voltar aos Gregos é o banho lustral por excelência.
Simone Weil diz que perdemos algures no passado a sua tradição científica, em que religião, filosofia e ciência eram partes de um todo. Hoje, a ciência é sobretudo poder (sobre a natureza, a economia, a política, etc.). Mas para que quereríamos hoje uma ciência contemplativa?
A verdade é que os Gregos ainda não eram o Ocidente.
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