A Vitória de Samotrácia (Louvre)
"De todas as maneiras, é preciso crer que o universo é belo em todas as escalas; e mais geralmente que ele tem a plenitude da beleza em relação à estrutura corporal e psíquica de cada um dos seres pensantes que existem de facto e de todos os seres pensantes possíveis. É mesmo esta concordância de uma infinidade de belezas perfeitas que faz o carácter transcendente da beleza do mundo."
"Formes de l'Amour implicite de Dieu" (Simone Weil)
Como diz Simone repetindo Kant, a beleza é "uma finalidade que não contém qualquer fim." Todas as coisas que tomamos por fins são, na verdade, meios, excepto a beleza que é o fim de si mesma, mas que "só se dá a si própria e nunca dá outra coisa."
E depois, num daqueles voos weilianos que nos deixam sem fôlego, acrescenta que "só o universo inteiro pode com inteira propriedade de termos ser chamado de belo." Tudo o resto é beleza secundária e só tem valor, "um preço infinito, como abertura para a beleza universal." Mas se nos detivermos nela, transforma-se em véu e corrompe.
Será então a eterna demanda da ciência uma estética que se desconhece?
Se transferirmos a plenitude da beleza para o universo como "totalidade" que é algo, na sua transcendência, só comparável a Deus, teremos talvez encontrado a verdadeira harmonia, a medida humana, que não deriva da "situação imaginária no centro do mundo".
É essa também a consequência de considerarmos todos os fins (excepto a beleza) como meios para outra coisa e dos nossos verdadeiros motivos se poderem reduzir ao desejo de "comer" essa beleza, de comer o deus.
"Valéry, no poema intitulado "Semiramis", faz muito bem sentir o laço entre o exercício da tirania e o amor do belo. Luís XIV, fora da guerra, instrumento para aumentar o poder, só se interessava pelas festas e pela arquitectura." (ibidem)
Em comparação com isto, como todas as outras explicações parecem mesquinhas e inspiradas pela misantropia!
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