"A Sombra do Guerreiro" (1980-Akira Kurosawa)
"'Em primeiro lugar, seria uma boa coisa para o Rei ser feio' (Cristian VIII era muito bem parecido). 'Depois devia ser surdo e cego, ou pelo menos comportar-se como se o fosse, porque isso resolve muitas dificuldades… e a seguir não devia dizer muito, antes devia ter um pequeno discurso-padrão que pudesse ser usado em todas as ocasiões, um discurso portanto sem conteúdo."
(Conversação de Kierkegaard com o rei Cristian VIII durante a qual este lhe perguntou como se deveria conduzir um rei – citado por Karl Popper, em "The Unended Quest")
Suponho que os monarcas actualmente em exercício se inspiraram todos neste conselho do filósofo dinamarquês. Alain dizia, por palavras diferentes, que uma cabeça coroada não se devia mexer muito para a coroa não cair ou não se deslocar. E Kurosawa mostrou-nos em "Kagemusha" que o poder supremo se pode confundir com uma silhueta no alto da colina.
Estranhamente, não se espera nada disso dum presidente da república. Ele deve ser uma espécie de árbitro ou de Argos com cem olhos para dissuadir com um franzir do cenho ou, pelo contrário, para encorajar com um aceno uns e outros.
Se a estabilidade se torna ainda mais preciosa em tempos de mudança social ( e o desenvolvimento da tecnologia habituou-nos já a uma espécie de revolução cultural permanente) percebe-se o interesse de uma âncora simbólica que não largue o fundo rochoso por muito turbilhão e espuma que existam à superfície.
Mas não devemos incluir nesta tradição a fórmula de que quanto menos governo melhor. O governo necessário pode não ser tão minimalista como alguns desejariam.
0 comentários:
Enviar um comentário