quinta-feira, 23 de julho de 2009

A COR DO GATO


Deng Xiaoping (1904/1997)


"O governo socialista da China não tinha nenhum problema de acesso ao capital. Enquanto uma economia de mercado não pode simplesmente decidir poupar ou investir mais, uma economia socialista pode e normalmente é isso que faz. O capital veio dos programas governamentais: quase toda a poupança era feita quer pelo governo quer pelas empresas do Estado. Nos dois casos o dinheiro era tirado do bolso dos indivíduos e investido a seu favor."

"The Undercover Economist" (Tim Harford)


Por que não é sempre assim? Por que é que nos anos 50 a economia chinesa pôde crescer dum modo tão espectacular (cada 100 yuan investidos geravam um retorno de 140)?

"As tarefas com que se defrontava o governo chinês eram bastante claras: em particular, o que tinha sido destruído durante a guerra e a revolução tinha de ser reparado. O governo só precisava de dar ordens."

Os problemas vieram depois. Harford diz que, mesmo pondo de lado o caos do Grande Salto em Frente e da Revolução Cultural, o Estado não conseguia retirar valor dos seus investimentos. A eficiência era metade da de duas décadas atrás.

Claro que havia imensas necessidades a que acorrer num país tão pobre. "Havia muito investimento efectivo a fazer, mas o Estado não sabia como fazê-lo."

A dificuldade é acrescida quando o aumento da população e os avanços tecnológicos impõem uma permanente mudança. Não se pode planear a 10 anos porque ninguém sabe como será o mundo então e quais serão as necessidades.

Deng Xiaoping, ao reconhecer que o socialismo não pode ser a repartição da miséria e ao reintroduzir, pragmaticamente, o mercado, rendeu-se à evidência de que é melhor alguma informação (a do sistema de preços e da oferta e da procura) do que nenhuma.

Depois, foi o que se viu. O gato pode não se chamar socialismo mas não há dúvida que apanha ratos, pelo que é um bom gato.

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