"Blow-up" (1966-Michelangelo Antonioni)
"Com efeito, como recorda Éric Rohmer, o cinema não produz imagens, mas planos; ou seja, blocos de espaço-tempo organizados em função de uma respiração musical, em função de um ritmo. Só há cinema quando as imagens 'respiram, se organizam em cadeias; quando, em vez de serem completas, exigem um 'fora de campo'. Opõem-se então às imagens de áudio-visual que, segundo Daney, consistem precisamente em dar tudo o que há para ver num primeiro olhar."
"Autópsia da visão" (Santos Zunzunegui)
É por isso que se pode falar em escrita cinematográfica. Mas o conceito de "fora de campo" não parece exclusivo do cinema. O "fora de campo" num romance seria talvez a consciência do autor que não se sentiria obrigado a contar-nos tudo, ou que por economia narrativa e efeito dramático nos escondesse os "factos". Mas também poderíamos dizer que todo o romance está "fora de campo", e é a imaginação do leitor que compõe os quadros e o movimento da ficção a partir dos índices presentes no texto.
A flagrante analogia do cinema com a "corrente da consciência" permite-nos ainda aplicar o conceito de "fora de campo" à psicologia. Por exemplo, a sinceridade é um estado, uma atitude, sem "fora de campo", enquanto a hipocrisia não se compreende sem referência a algo que se esconde do interlocutor.
E as imagens que são completas em si mesmas, como na fotografia, não são totalmente destituídas duma dimensão, em profundidade, de "fora de campo". Lembremo-nos de "Blow-up". A fotografia do parque dá ela própria início a uma narrativa de assassínio através dum processo de análise.
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