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"O nosso sentimento de impotência face ao terrorismo é também um sentimento de impotência conceptual. Com efeito, só nos restam más escolhas. Falar do mal a propósito do 11 de Setembro significa fazer uma aliança com aqueles cujas diabolizações simplistas servem deliberadamente para ocultar formas de mal mais insidiosas. Não falar de mal a propósito destes assassínios é relativizar o julgamento sobre estes, é torná-los compreensíveis e seguir um caminho que vai dar à sua justificação."
"Terror: Após o 11 de Setembro, o Problema do Mal" (Susan Neiman)
Será o mal um conceito impensável, uma ideia anacrónica, apenas uma estrutura semântica que nos leva a empregar no dia a dia os termos antagonistas do bem e do mal como equivalentes a uma extrapolação do que é bom ou mau para nós, pessoalmente, já que a maior parte de nós não tem a pretensão de saber o que é bom e o que é mau a um nível mais complexo, mesmo dando de barato que saberíamos distinguir os graus de perfeição ou do seu contrário?
A vontade de compreender todas as causas dum acontecimento como o 11 de Setembro conduz, realmente, à sua justificação. O desejo de imolação e a alucinação do paraíso do terrorista serão menos humanos do que a cruzada contra os Albigenses, a Inquisição ou a utopia de Pol Pot?
Compreender verdadeiramente significa reduzir o papel do indivíduo e da sua capacidade de decidir no veículo muito mais decisivo da natureza e das forças sociais. É esse, de resto, o caminho encetado pela justiça nos países mais desenvolvidos, por influência dos progressos das ciências sociais.
Susan Neiman diz que a explicação do mal, neste contexto, pode ser obscena, quando consiste em "negar que aquilo que aconteceu no 11 de Setembro seja condenável".
Estão aqui em questão, parece-me, duas maneiras de julgar muito diferentes. O espírito do historiador, ao tentar explicar, faz um juízo "intemporal", ou fora do tempo da acção, e é essa posição que se pode tornar perversa quando é assumida no tempo político como falsa objectividade.
Em política, o juízo histórico é uma anomalia, porque o juízo aqui se defronta com a necessidade duma ética, a qual não exige explicações, mas uma "separação de águas", como no Vale de Josafat.
A metafísica do Bem e do Mal pode ter-se tornado pouco mais do que um sistema operativo que em última instância é a justificação da Lei, mas é ela que nos permite encontrar um sentido para o carácter incompleto e abstracto (porque não tem em conta toda a realidade) das nossas sentenças.
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