"Starry Sky" (Van Gogh)
"Ser-se-ia muitas vezes tentado a chorar lágrimas de sangue ao pensar quantos infelizes esmagados pela desgraça são incapazes de fazer uso dela. Mas considerando as coisas friamente, esse não é um desperdício mais lastimável do que o da beleza do mundo. Quantas vezes a claridade das estrelas, o ruído das vagas do mar, o silêncio da hora que precede a alba não se vêm inutilmente propor à atenção dos homens? Não conceder atenção à beleza do mundo é talvez um crime de ingratidão tão grande que merece o castigo da infelicidade."
"L'Amour de Dieu et le Malheur" (Simone Weil)
Pode ser chocante para a mentalidade moderna sugerir que a beleza do mundo não é uma beleza qualquer, que não é casual, nem independente das necessidades humanas, mas que, pelo contrário, ela é uma necessidade profunda e, como diz Simone, uma espécie de sacramento.
Esse sentimento, essa quase criminosa "ingratidão" explica-se por, desde há muito tempo, termos passado a viver num nicho artificial onde só nos vemos e ouvimos a nós mesmos. É isso que significa o universo como conquista e ampliação do nicho.
Sem termos consciência dessa "distracção" fatal, também não podemos compreender que até a desgraça pode ter um sentido.
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