"Em tempos já idos, estava muito em moda em Tokushima, como em todo o Japão, o entretenimento solene, quase religioso, de se reunirem os amigos em um pavilhão especial construído no jardim, preparando o dono da casa o chá, o chá-no-yu, ritualmente, e oferecendo-o aos convidados. A cerimónia incluía a contemplação da paisagem do jardim, das florescências ocasionais, a íntima concentração do espírito, a improvisação de poesias, etc."
"Caderno de impressões íntimas" (Wenceslau de Moraes)
Este Japão tradicional vemo-lo ainda no cinema. Não há cena de Ozu ou de Mizogushi em que não se sinta esta ritualidade e a contenção cerimoniosa dos gestos.
Mas parece que aquilo que nós, Ocidentais, reservamos para os lugares de culto é apropriado, no Japão, em qualquer lugar.
Sabendo qual tem sido a influência do exterior nos novos costumes dos japoneses, podemos nos perguntar até que ponto esse cerimonial está em vias de se tornar um simples vestígio do passado e se a nossa própria história não nos oferece exemplos do mesmo fenómeno.
Onde quer que o colectivo exerça a sua influência, damo-nos conta de alguma ritualização. Não é só uma questão de convivência e de boas-maneiras, mas de coreografia dos corpos e dos espíritos, uma adaptação ao movimento dos outros e ao seu ritmo.
Não se pode pensar em grupo, mas o que mais se aproxima disso é, talvez, qualquer coisa como a contemplação da paisagem artificial de que fala Moraes.
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