"Eu deveria talvez começar pela crítica duma teoria da arte amplamente aceite: a teoria de que a arte é auto-expressão, ou a expressão da personalidade do artista, ou talvez a expressão das suas emoções. (…) A minha principal crítica desta teoria é simples: a teoria expressionista da arte é vazia, porque tudo o que um homem ou um animal pode fazer é (entre outras coisas) uma expressão de um estado interior, de emoções e de uma personalidade. Isto é trivialmente verdadeiro para todas as espécies de linguagens humanas ou animais."
"The Unended Quest" (Karl Popper)
Popper cita os exemplos de Bach e Beethoven para dizer que em boa verdade não poderia propor o último destes músicos como modelo ou ideal artístico. Por muito que admirasse Beethoven não podia deixar de reconhecer na sua música um lado fortemente expressionista e subjectivo, talvez devido ao desespero em que vivia. "No entanto, a pureza do seu coração, os seus poderes dramáticos, os seus dons criativos únicos, permitiam-lhe trabalhar dum modo que não seria permissível a outros." Por contraste, em Bach a música correria duma fonte não contaminada pelo subjectivismo.
O papel revolucionário do romantismo, julgo que não pode ser posto em causa. Correspondeu ao ascenso dos valores individuais na nossa cultura. Mas é visível o esgotamento daquilo a que o filósofo chama de expressionismo. A melhor crítica é fornecida pelos exemplos que nos dá o que já foi a avant-garde. Os automatismos que invadiram a pintura e o comentário perpétuo e circular das obras do presente e do passado exprimem tanto a personalidade do artista como qualquer gesto involuntário.
A arte moderna é, ao mesmo tempo, cada vez mais objectiva, sendo o seu valor determinado por um sistema formal e ideológico e, cada vez mais, pelo mercado da arte.
0 comentários:
Enviar um comentário