quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

QUATRO NOITES COM ANNA


"Quatro noites com Anna" (2008, Jerzy Skolimowski)


A história do homem do crematório, Okrasa, que concebe uma paixão platónica por Anna, uma enfermeira que dorme em frente do seu barraco, interessa-me desde logo por esse paradoxo do ideal num pobre de espírito. Mas, sobretudo, o que obriga Anna àquela entrevista final com o prisioneiro.

As quatro noites durante as quais Okrasa se introduz furtivamente no quarto de Anna, sedada graças a uma artimanha, sem sombra de voyeurismo ou de concupiscência, mas como uma espécie de anjo da guarda que lhe pregava os botões da bata ou lhe lavava a loiça, "visitas" que lhe permitiam dizer diante do túmulo da avó que "andava a ver uma mulher", como ela sempre tinha insistido, e a confissão, no tribunal, de que era movido apenas por amor, por esse amor aleijado e sem esperança, criam em Anna algo de parecido com uma responsabilidade. É isso que a faz ir à prisão para lhe devolver o anel que ele deixara na sua cama e lhe dizer que nunca mais voltava.

De facto, até esse farol que era a sua janela se transformou num muro cego. Para Okrasa, a loucura banal pode começar.

0 comentários: