Pirilampos
"Mas voltemos aos bichos. Fora do domínio da arte e entrando na realidade da vida, é interessante registar que há no Japão sítios afamados para ir ouvir o coaxar das rãs, outros sítios para ir ver os lumes vagabundos dos pirilampos cruzando-se no espaço, durante a noite escura; outros ainda para ir ouvir cantar - se o termo é admissível - certos insectos, uns semelhando os nossos grilos, outros de espécies diferentes. E a todos estes sítios concorre o povo em multidão, como para uma festa, em determinadas épocas do ano."
"Cartas" (Wenceslau de Moraes)
Não vejo, entre nós, nada que se pareça com este amor da natureza, a não ser nas crianças que, certamente, nunca achariam absurda a ideia de ir de propósito ouvir um coro de rãs ou de cigarras.
Mas a influência ocidental e o espírito positivo, provavelmente fizeram deste culto uma memória do passado.
Para aqueles de nós que vivem junto ao mar, decerto, a contemplação da natureza continua a fazer sentido, mas é como se o amor das pequenas coisas, em que primavam aqueles nipónicos, já não nos fosse dado.
Essas coisas, por outro lado, fazem-me lembrar os diminutivos na poesia de Pessanha, outra alma fascinada pelo Extremo Oriente.
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