"Oiça, querida Annette," disse o príncipe, tomando subitamente a mão de Anna Pavlovna e por alguma razão arrastando-a para baixo. "Trate-me disso e eu serei para sempre o seu mais devotado escravo-escrafo, com um f, como um dos meus anciões de aldeia escreve nos seus relatórios. Ela é rica e de boa família e isso é tudo o que eu quero."
Aquela razão desconhecida para baixar a mão é explicada mais à frente. "E com a familiaridade e a graça que lhe eram peculiares, levantou a mão da dama de honor até aos seus lábios, beijou-a e fê-la oscilar para cá e para lá, encostando-se na cadeira e olhando noutra direcção."
Tosltoi adopta aqui o ponto de vista dum espectador da cena, como se não soubesse que o príncipe precisava duma certa amplitude para o movimento que pretendia imprimir à mão de Anna Pavlovna.
Suponho que na maior parte dos romancistas o futuro das personagens é, em grande parte, desconhecido do próprio autor, mas aqui trata-se do minuto seguinte. E quem é assim capaz de descobrir a sua personagem, momento a momento, escreve com ela, mais do que é o seu "autor". É habitado por outro espírito cuja vida é a escrita.
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