quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O OUTRO MUNDO EM ALTURA



"A força social não existe sem mentira. Por isso, tudo o que há de mais alto na vida humana, todo o esforço de pensamento, todo o esforço de amor é corrosivo para a ordem. O pensamento pode ser igualmente, com a mesma propriedade, acusado de revolucionário de um lado, como contra-revolucionário do outro. Na medida em que constrói sem cessar uma escala de valores "que não é deste mundo", ele é inimigo das forças que dominam a sociedade."

"Méditation sur l'obéissance et la liberté" (Simone Weil)


Entendamo-nos, a citação do Evangelho não nos compele a abandonar o estritamente mundano.

O "que não é deste mundo" tanto pode ser compreendido como a transcendência, a influência do religioso sobre o político, como o ponto de vista do observador exterior ao sistema político. O sistema não pode criar valores, mas normas que o façam funcionar e o justifiquem, incluindo as normas que eventualmente se apresentem como valores.

A metáfora da altura não está aqui por acaso, mas é-nos permitido iludir a abordagem metafísica, o que não quer dizer que se esteja, por isso, ao alcance da positivismo científico. Sem sairmos duma teoria da comunicação, o observador que observa o observador de dentro do sistema e criação deste está "acima" dele e realmente fora do seu mundo.

A figura de Deus pode ser uma extrapolação de todos os observadores possíveis, é o vértice absoluto da observação.

Mas só podemos ter pretensões de altura nos juízos que fazemos sobre os valores, pretensos ou não. Não estamos, por definição, no domínio dos factos nem no da falsicabilidade.

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