terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O MORALISTA SUPERIOR


Родион Романович Расколников

"Numa palavra, deduzo que todos os homens, e não só os grandes, que saem um pouco que seja dos limites normais, isto é capazes de dizer algo um pouco mais novo, têm de ser, pela sua natureza, obrigatoriamente criminosos - mais ou menos criminosos, evidentemente. De outro modo, ser-lhes-á difícil sair dos limites, quando não podem aceitar ficar dentro deles, por força também da sua natureza, e, na minha opinião, têm mesmo a obrigação de não aceitar tais limites."

"Crime e Castigo" (Fiodor Dostoiewski, citado por Peter Sloterdijk)


Lenine não tinha teorizado ainda sobre a vanguarda revolucionária, mas esta "desinibição" (como lhe chama Sloterdijk) de Roskolnikov já o torna um percursor. Certamente, ainda nas fraldas do individualismo pequeno-burguês que seria o seu estigma indelével, mas separado já da sua classe pelo ideal do progresso e pela invocação duma moral superior. Não se trata duma personagem amoral como as que Gide descreveu, mas nela os fins justificam os meios, como na política bolchevique.

O assassínio da velha usurária era um acto de afirmação duma vontade heróica, acima da moral comum. O que Raskolnikov não previu foi a força dessa moral, a força da religião dentro de si mesmo. Os limites que pretendeu ultrapassar não levavam a lado nenhum e não havia nada neste mundo que fizesse deles a ombreira duma coisa nova e com um sentido ideal.

Foi isso que o partido trouxe à sua descendência intelectual, uma moral superior que se revia no zelo da pertença.

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