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"Então, convalescente esfaimado que se sacia de todas as iguarias que lhe recusavam ainda, interrogava-me se casar-me com Albertine não iria estragar a minha vida, tanto fazendo-me assumir a tarefa demasiado pesada para mim de me consagrar a um outro ser, quanto forçando-me a viver ausente de mim mesmo por causa da sua presença contínua e privando-me para sempre das alegrias da solidão."
"La Prisonnière" (Marcel Proust)
Marcel goza um momento de paz, julgando saber que a sua amiga se encontra em companhia segura, longe da tentação gomorreana.
Como o amor não explica a "prisão" de Albertine, o controle que pretende exercer sobre ela e que é aceite, menos por amor do que pela perspectiva de um bom casamento, assemelha-se ao zelo religioso para salvar alguém da perdição.
Mas há que ler esta e outras passagens tendo em mente a técnica da conversão sexual de que o escritor falou a Gide.
Em Sodoma só se salva aquele que defendeu o estrangeiro da "naturalização" que a cidade lhe quer impor.
Como outro Lot, Marcel quer salvar o anjo que sabe já estar perdido.
(Se alguma coisa há que denuncie a passagem dos séculos é a ideia que Marcel se faz da "presença contínua".)
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