domingo, 7 de dezembro de 2008

DE SE LHE TIRAR O CHAPÉU


Carlos V (1500/1558)

"Os ricos-hombres que seguiram Carlos V pretenderam cobrir-se aquando do coroamento imperial; os principais príncipes da Alemanha levantaram dificuldades, e Carlos V, já nessa altura hábil, soube aproveitar contra pessoas afastadas da sua pátria, e que, por este cúmulo de grandeza de toda a sucessão de Maximiliano I representada no seu jovem monarca, não se creram em estado de lhe resistir."

"Mémoirs" (Duc de Saint-Simon)


O privilégio de não se descobrirem quando falavam ao rei era um sinal de orgulho e poderio da nobreza espanhola, mas começou a ser minado pelos próprios nobres quando, para agradar a Filipe o Belo, não quiseram usar todo o rigor desse direito. Este rei, segundo Saint-Simon, aproveitou para diminuí-lo e o seu sucessor apagou-o da memória, passando ele, Carlos V, a outorgar os novos títulos de grandeza.

O mais interessante é que ninguém parece ter-se revoltado. O primeiro passo, motivado pela lisonja, foi fatal. A ingenuidade dos ricos-hombres deu lugar a um novo contrato, tendo o rei reduzido o número de beneficiários, mas valorizando os títulos concedidos a muito poucos.

A mecânica do poder impôs-se e o poder menor submeteu-se, mas sem perder a face.

Devia ser assim que, a haver mudanças sociais que implicam a degradação duma parte, as coisas se deveriam sempre passar.

0 comentários: