quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

DESCODIFICAR A VIOLÊNCIA


Shiva, O Destruidor


Num excelente artigo no "Público" de hoje, Rui Ramos, referindo-se ao massacre de Bombaim diz que a explicação não se deve procurar no que "esteve mal no passado", mas no que "estava a correr menos mal". "É assim que no Ocidente digerimos violências deste género: esgravatando o passado, à procura das causas mais remotas donde esperamos extrair o princípio de uma solução ou as razões para o cepticismo."

Mas como a lógica dos jihadistas é o quanto pior melhor, por se terem tornado "profissionais da guerra e já não sabem viver de outra maneira, ou (que) encaram o arrastamento do conflito como a única via para chegarem aos seus fins políticos", as dificuldades, o diálogo de surdos, o ódio étnico ou religioso trabalham para a sua causa e o que, pelo contrário, mais temem são os avanços em direcção ao apaziguamento ou os mínimos sinais de esperança numa qualquer solução.

No caso de Bombaim, diz o articulista que "desde há 15 anos, desde a crise da mesquita de Babri, em Ayodhya, que não há violência em grande escala entre as comunidades de Bombaim. Nunca, como nos últimos tempos, a linha de demarcação entre a Índia e o Paquistão esteve tão quieta. A tal ponto, que se falava da possibilidade de facilitar os contactos entre as populações de um lado e do outro."

O desespero é, portanto, o principal aliado dos terroristas. Eles precisam fazer crer que nunca se conseguirá sair do círculo infernal da violência, a não ser nas suas condições, que são tão irrealistas e tão à imagem das "sociedades caóticas" donde são oriundos que isso equivale a nunca.

Se se souber ler através do seu "jogo muito cínico e bem pensado", há, pelo contrário, algum motivo de esperança.

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