Wencesau de Moraes(1854/1929)
"(...) ou comunga na vida japonesa, inicia-se nos seus segredos íntimos, ama-a nas suas modalidades, e assim a existência se lhe gasta, se consome rápida, esgazeada em admirações, doidejando em vertigens; ou se retrai, se isola, odeia a natureza que não compreende, odeia o exílio, vive de saudades da pátria, entre as quatro paredes do seu lar, ou dos clubes cosmopolitas da colónia forasteira. Não é preciso mais para justificar o tique de loucura, facilmente perceptível, da enorme maioria destes expatriados, homens e mulheres, após curta residência no país japonês."
"A Primavera" (Wenceslau de Moraes)
Se é preciso viver fora do país natal, devemos fazer como Moraes: admirando tudo à nossa volta quando se trata da natureza, e se os costumes parecem demasiado afastados dos nossos ou a política incompreensível e deixando a desejar, estudá-los como a outra natureza que tem o poder de nos fazer parecidos com ela.
A paixão do povo japonês pela natureza, o seu panteísmo ingénuo, estão expressos, segundo o autor nesta local dum jornal da terra:
"em Himeji já se deu fé este ano de duas flores de cerejeira." E o nosso compatriota comenta: "duas, é sobretudo delicioso!... O homem do Ocidente pensa, o japonês vê; eis a enorme distinção que os separa."
Estará este retrato dessa cultura assim tão longe do "Império dos Signos", tal como no-lo mostrou Roland Barthes há alguns anos?
Signos, como uma paleta, menos para ler do que para compor.
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