"Muitos deles, não sabendo que modificação pode ser ou não perigosa, preferem conservar tudo, sem se darem conta que a conservação no meio das circunstâncias que mudam constitui ela própria uma modificação cujas consequências podem ser desordens. A maior parte invoca as leis económicas tão religiosamente como se tratassem das leis não escritas de Antígona, quando mudam quotidianamente diante dos seus olhos."
"Ne recommençons pas la guerre de Troie" (Simone Weil)
De facto, o conjunto das relações económicas a que actualmente se dá o nome de capitalismo e que resume a palavra sistema não se deixa compreender pela ideia dum jogo de mecanismos que pudessem ser isolados e cuja função se pudesse programar e prever.
Os que julgam "pôr um pauzinho na engrenagem" trazem apenas mais complexidade ao sistema e contribuem para uma melhor adaptação deste ao seu ambiente. É uma negatividade completamente "recuperada", como se dizia há uns anos atrás, contra as intenções dos seus autores.
Os que, pelo contrário, defendem o statu quo, opondo-se a qualquer mudança (excepto às admitidas pelo príncipe de Salina, para que tudo fique na mesma), obteriam, naturalmente, o contrário do que desejam, quando tudo muda, não fosse a sua "acção" o contrapeso da dos seus adversários políticos.
Quando os fenómenos económicos são cristalizados "numa abstracção impossível de definir, e se atribui a essa abstracção, sob o nome de capitalismo, tudo o que cada um sofre e vê sofrer à sua volta", "basta que um homem tenha carácter para devotar a sua vida à destruição do capitalismo ou, o que é o mesmo, à revolução."
Simone diz que destruir uma abstracção não faz sentido, mas que também não fazia sentido fazer uma guerra de 10 anos por uma mulher que, segundo Eurípides, nem sequer estava já em Tróia.
A nossa acção parece ter um objecto tão real quanto o próprio sistema que a inspira.
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