quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ECONOMIA DA DESIGUALDADE


Karl Polanyi (1886/1964)


"E quando Karl (Polanyi) deixou a África Ocidental dos séculos XVI e XVII e se virou para a Grécia clássica, a Grécia de Platão e Aristóteles, sofreu o mesmo choque. Foi a escravatura e a caça a escravos da sua própria raça, da sua língua, da mesma carne e do mesmo sangue que permitiu às cidades-estados gregas, e sobretudo a Atenas, terem desenvolvimento económico e liberdade para os seus cidadãos e estabelecer um sistema económico em que a reciprocidade e a redistribuição, e não as forças de mercado, regulavam as relações dentro da sociedade, com a força de trabalho mantida fora do sistema de mercado."

"Memórias de um economista" (Peter Drucker)



Segundo Drucker, Polanyi não conseguiu descobrir nos seus estudos históricos uma alternativa ao sistema de mercado que não fosse a servidão, por muito que odiasse "a crença no mercado de Ricardo e Bentham e também dos demónios contemporâneos de Karl, como Ludwig von Mises e Friedrich Hayek da Escola Austríaca".

Isso não quer dizer, evidentemente, que a servidão não tenha as suas contrapartidas (insuportáveis para a consciência moderna), como se existisse, de facto, qualquer coisa como uma economia da desigualdade. Como diz o autor, foi a escravatura que permitiu, na Antiga Grécia, os primeiros esboços da liberdade e da democracia. Mas outra das conclusões de Polanyi, não menos "chocante", é que "o comércio dos escravos e as incursões para capturar escravos", contra a ideia feita, não foram "violentamente impostos por interesses rapaces (árabes no Leste, brancos no Oeste) a sociedades negras amantes da liberdade e harmoniosas", mas sociedades estáveis e economicamente sólidas, baseadas na redistribuição e na reciprocidade, como a do Daomé, assentavam "essencialmente no comércio de escravos", "com as trocas de mercado confinadas às exportações e importações rigorosamente separadas da economia interna".

Tal como a Grécia, a sociedade daomiana oferecia os dois lados da moeda. Mas mais próximos de nós estão os exemplos do chamado "socialismo real" que não deixava de proporcionar à sua nomenklatura as vantagens duma sociedade "estável e economicamente sólida", com a diferença em relação aos cidadãos atenienses de que não se podiam referir à maioria excluída, pela razão da desigualdade não poder ter existência oficial.

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