segunda-feira, 12 de maio de 2008

SHAKESPEARE E A BÍBLIA



"Existe uma excepção suprema e desafiadora a esta ubiquidade da presença bíblica na literatura inglesa. Estudos auxiliares falam de um número considerável de alusões a material bíblico em Shakespeare. Citações das Escrituras, na maior parte mudas e indirectas, foram identificadas. No entanto, não há conflito central nem compromisso de qualquer natureza (como há, pelo contrário, com Homero e Plutarco)."

"Paixão Intacta" (George Steiner)


"Presumo que algum instinto prudente de superior autonomia inibiu Shakespeare de um contacto demasiado próximo com os únicos textos, com o único discurso em acção, que poderiam ofuscar as suas próprias faculdades." (ibidem)

Isto é tão assombroso que logo pensamos no impacto das Revoluções sobre a língua e a cultura duma nação, na acção dos seus mecanismos de censura, com os epifenómenos de histerismo e sublimação, como termo de comparação.

O "recalcamento" do discurso bíblico por parte do maior vate nacional ter-lhe-ia sido imposto pela criação duma nova língua no contexto duma crescente distanciação em relação à Igreja de Roma?

A falta de naturalidade de Shakespeare, glosada num outro ensaio de Steiner, aparece assim como a marca duma autonomia que transcende o próprio teatro.

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