"Os primeiros ensaios de iluminação a gás ao ar livre coincidiram com a infância de Baudelaire: foram colocados candelabros na Place de Vandôme. Sob Napoleão III, o número dos candeeiros a gás aumenta rapidamente em Paris. O facto trouxe mais segurança à cidade, fez a multidão sentir-se nas ruas como em casa, também à noite, e baniu o céu estrelado do cenário da grande metrópole de forma mais radical do que o tinham feito os prédios altos."
"Charles Baudelaire" (Walter Benjamin)
Toda a luz artificial é um ecrã. As grandes cidades projectam-se, de noite, contra o céu, tornando irreal o que está para além desse espectáculo.
Não podia deixar de ser assim, visto que tivemos de nos relacionar cada vez mais connosco próprios e não sabemos já lidar com a Natureza.
Mas começamos a sentir que esta não pode ser simplesmente "protegida", depois de a termos considerado como objecto de conquista. A consciência ecológica é ainda uma consciência de proprietário a quem compete zelar pela conservação dos seus bens.
E assim se acendeu o gás e apagou o céu. Este é cada vez mais um assunto de especialistas.
Quem tem tempo para considerar? (*)
(* segundo Ernout e Meillet, o lat. considerare significava originalmente "examinar com cuidado e respeito religioso os astros, segundo os princípios da astrologia" - Dic. Houaiss)
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