domingo, 4 de maio de 2008

O PARAÍSO


"Trouble in Paradise" (1932-Ernst Lubitsch)

"Mas que seríamos nós então se não fôssemos contingentes e mortais? Nada, certamente: uma Inconsciência eterna, infinitamente perfeita, não existindo para si nem para ninguém. Ah! como seria bom ser assim completamente sem problemas, nem sequer ter de gozar essa indestrutível Ausência... Idealizo? Não, vejamos: tentem formular qualquer outra hipótese!"

"La foi d'un incroyant" (Francis Jeanson)


O paraíso não tem problemas por definição, e Lubitsch fez um filme em que um especialista na subtilização de jóias nos grandes hotéis encontra a riqueza e o amor na pessoa duma bela herdeira. Infelizmente, esta não consegue abstrair-se do medo da polícia que sempre lhe ensombraria o romance.

A perfeição, de facto, não é para nós, humanos. Não saberíamos o que fazer com ela, e tudo aquilo que dá sentido à vida e à acção se tornaria miseravelmente supérfluo.

Por isso, a ideia da eterna contemplação do Bem e dos círculos processionais de anjos ao som da música das esferas imaginada pelo autor da Divina Comédia é a dum estado sem morte nem vida, e que tampouco é o pensamento porque lhe falta todo o objecto.

E assim este Paraíso (que já não é o da inocência de Adão e Eva) revela-nos não a plenitude do espírito, mas o seu completo vazio.

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