quarta-feira, 28 de maio de 2008

A MULTIDÃO



"O contacto com o mundo dos espíritos, que, como se sabe, influenciou em Jersey tanto a sua existência como a sua produção literária, era, por mais estranho que isso possa parecer, acima de tudo um contacto com as massas, de que o exílio privara o poeta. A multidão é, na verdade, a forma de existência própria do mundo dos espíritos."

"Charles Baudelaire" (Walter Benjamin)


Hugo, no exílio, conversa com os espíritos, perante quem, como diz Benjamin, à falta das massas, prossegue a sua carreira de grande orador e de profeta.

Há uma ideia em Freud que se parece com isto: a neurose de conversão. A energia não é simplesmente contida, mas torna-se força plástica. Somatiza (ou, como aqui, fantasmiza).

O orador, sobretudo o inspirado, não tem indivíduos como interlocutores, que lhe possam objectar o quer que seja. As palavras derramadas sobre a assembleia são como que um pentecostes.

A multidão, porém, pode ser a sede de energias conflituosas. Nesse caso, a imagem dos espíritos devia ser substituída pela dos demónios à solta.

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